quinta-feira, 1 de outubro de 2020

HISTÓRIAS DA VARIG - OPERAÇÃO AVRO RIO GRANDE DO SUL

 

Operação AVRO no Rio Grande do Sul

Martin Bernsmüller 

Um capítulo estranho da história de nossa querida VARIG

Essa é uma história de um dos maiores erros de estratégias que a Varig cometeu, um erro baseado na decisão de uma pessoa, provando, que em uma boa gestão, decisões importantes devem ser tomadas em conjunto, e muito bem estudadas e planejadas. 

A Diretoria de tráfego Doméstico, na época, é que planejava as futuras linhas que a Varig iria operar no Brasil, e achou por bem dar uma maior atenção nos voos para o interior do Rio Grande do Sul.Por conta disso, substitui os antigos DC-3, por modernos turbo-hélices-Avro. Até foi criado um serviço de bordo chique, que prometia drinques, canapés e refeições frias, além é claro do lançamento do CREDI-AVRO, para o financiamento das passagens. Essa diretoria atuava junto com outras diretorias, entre elas, a de Propaganda e Marketing, Operações e Serviço de Bordo. Mas às vezes, a estratégia nem sempre dava certo, e a Companhia gastava dinheiro e tempo, simplesmente sem alcançar objetivo algum, fazendo com que, tivesse que voltar atrás em decisões equivocadas e caras, vejam esse exemplo que nosso colega Martin (comissário de voo aposentado pela Varig) nos contou e vivenciou, segue o texto, com as palavras dele; ¨Março de 1971 fui chamado à Chefia dos Comissários e imbuído de uma missão inédita: a tentativa de reconquistar o mercado de passageiros e carga nas linhas do interior do Rio Grande do Sul. Para tal foi preparado o avião AVRO, prefixo- PP-VDT (logo apelidado de vedete'......VeDeTe). Foi o único com música ambiental interna (na base de toca-fitas K-7), um serviço de bordo muito especial e um carrinho para o serviço !¨

 Aí você já começa a ter uma ideia da loucura que foi esse projeto, onde a pessoa que elaborou isso tudo nunca voou como tripulante, o Avro era um avião pequeno, que não comportava esse tipo de serviço mais refinado. As linhas que seriam atendidas: POA/Bagé/Santana do Livramento/Bagé/POA  e POA/SantaMaria/Alegrete/Uruguaiana/Alegrete/Santa Maria/ POA.

 Continuando com suas palavras: ¨Fui destacado a chefiar oito comissárias em uniformes vistosos, bonitos até, mas nada práticos! (A saia comprida era 'tubo', portanto estreita e a comissária não conseguia se agachar para apanhar as bandejas e outros materiais…)¨.

Este uniforme desenhado pelo renomado costureiro gaúcho da época, o costureiro Nazareth, era baseado em trajes típicos das gaúchas, a bordo as comissárias não usavam o chapéu, e na cabeça, usavam uma tira de couro trabalhada, tudo muito bonito, mas nada prático, tanto que o costureiro acompanhava os voos nas cidades, para ajeitar o melhor possível o uniforme nas comissárias, e o curioso é que ele sempre ia de carro antes, pois morria de medo de andar de avião. Até que uma vez o voo ia pra Livramento e ele foi como sempre de carro, e por infelicidade do destino, ele se acidentou na estrada e acabou morrendo. Um uniforme vistoso, mas nada prático criado por uma pessoa, que nunca teve a menor ideia, do que se passava a bordo de uma aeronave.

Continuando com o depoimento do colega: ¨Pois bem! Transferi-me temporariamente a Porto Alegre e ajudei a comandar o belíssimo espetáculo. Durante duas semanas efetuamos voos de apresentação em cada cidade (sempre eram três decolagens: uma com as autoridades e jornalistas locais, outra com empresários da região e ainda outra para quem se apresentasse à porta do avião). E nós tínhamos de servir espumante em taças de cristal da 1.ª Classe da Varig nos voos de cerca de 20 minutos à baixíssima altura, sacolejando como se estivéssemos dentro do maior CB ( nuvem Cumulus) ¨.





 

 Pensem no sufoco que foram essas apresentações, voos em altitude baixa com várias pessoas e serviço de luxo. Um inferno Chegavam a fazer três voos panorâmicos por cidade, com todo o serviço de espumante, e muitas vezes, as pessoas passavam mal a bordo, devido ao sacolejo e acabavam sujando todo o avião, e sempre sobrava aos comissários fazerem a limpeza, mas o cheiro no avião ficava impregnado. Três meses após o início das operações foi acrescido mais um voo: POA/Cruz Alta/Santo Ângelo/Cruz Alta/POA.

Os resultados financeiros foram nada satisfatórios e após oito meses toda a Operação AVRO Rio Grande Do Sul foi cancelada, um enorme erro de estratégia. A única coisa boa dessa operação, foi o comissário Martin, ter conhecido a mulher, que seria a sua futura esposa.

Outro detalhe disso tudo foi que anualmente era organizado pela IATA, um concurso, que premiava o mais bonito uniforme dos comissários/as, e não preciso dizer que o uniforme das comissárias dessa operação levou o premio de uniforme mais bonito e original das companhias aéreas, naquele ano. 

Uma história de um fracasso da nossa Varig, que precisa ficar nos registros.

VOAR UM GRANDE LANCE. HISTÓRIAS DA AVIAÇÃO.





3 comentários:

  1. Meu pai era o gerente RIA. Lembro bem do coquetel de lançamento do serviço Avro. Alugaram o Clube Caixeiral e serviram tudo de bom e de melhor...caviar, champanhe, canapés, etc...
    As "forças vivas" da cidade foram todas convidadas, e encheram o clube.
    Saiu nos jornais locais com pompa.
    E lembro do pai falando sobre o Martin e esposa, que se conheceram por causa do Avro...heheeh... Só reclamavam do numero de botões que tinha o vestido. Piadinha..

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  2. boa noite, sou luiz fco. ex.funcionarionserv.aero cruzeiro sul e varig 1969 a 1993, o que dizer Rio Sul,Nordeste, compra da Cruzeiro do sul em 1982, voo do BRASIL PARA JOANESBURG DIRETO eu ouvi muitos comentario aeronave batendo lata compouco aproveitamento etc.

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  3. Voei em um Avro de B. Horizonte, aeroporto da pampulha a Paulo Afonso, Bahia. Só funcionários da RG voo promocional, acredito. Penso que da nossa base, pelo menos 80% foram convidados. Ano 70 ou 71. Só saudades.....

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