A
ESCALA DE VOOS
Trabalhei na escala
de voos, durante um ano, aproximadamente, o local era no Galeão quarto andar em
cima do Despacho Operacional, uma época boa em que fiz muitos amigos, além de
aprender e como morava próximo do aeroporto na época, ia sempre almoçar em
casa. A ideia do gerente dos comissários, na época o Moreira, era que eu fosse
o Elo entre a chefia de comissários e a escala. Como eu acabei me dando bem com
todos os membros da escala, o projeto estava dando certo, tudo passava por mim,
pedidos de folga de instrutores, de voos, alunos novos e dispensas médicas,
além das licenças, e a escala me passa a possibilidade ou não de atender todos
os pedidos. Até trabalhar lá dentro, eu não fazia ideia do trabalho que era
fazer uma escala para mais ou menos três mil tripulantes, com uma malha aérea
de uns 200 voos, não era brinquedo, não havia computadores, e tudo era
calculado na calculadora e na cabeça. Tínhamos que respeitar a regulamentação
dos tripulantes, as folgas que eram várias, por exemplo: FS (Folga Social - fim
de semana), FR(folga regulamentar), FA(Folga de Aniversário),FP (Folga Pedida),
os pedidos de voos, licenças médicas, escalas fixas de tripulantes casados,
enfim tudo, não era à
toa que a contagem de
comissários era de sete comissários por função em cada aeronave, exemplo: um jumbo=18x7, só com essa conta a aviação não
corria o risco de parar, tudo era muito pensado 15 dias antes do término do mês, e ainda vinha a malha
aérea nova que o planejamento mandava no final do mês e tínhamos que encaixar
os voos na escala já pronta. Era usada uma folha enorme, por função e
equipamento, onde os nomes em ordem alfabética ficavam na vertical e as chaves
dos voos na horizontal, ai era só começar a fechar os espaços com os voos e as folgas,
etc. Lembro-me do pessoal varando a noite e ficando quase louco pra fechar a
escala, e esse folhão ganhou o apelido de arco-íris, devido a cada chave de voo
ter uma pintura diferente, assim ficava mais fácil descobrir as falhas. As
divisões de tarefas em uma escala, eram: o planejador que fazia a escala e
fechava sempre a aviação do dia seguinte e os executores que eram responsáveis
para acionar os comissários
e fechar os voos do
dia, rolava muito stress nas relações, escala/comissário e vice-versa, mas a
gente ia levando, hoje vejo como essas pessoas eram heróis para fazer escala na
mão só com uma calculadorazinha. E olha que a Varig exigia que os tripulantes
não passassem de 60 horas mensais, devido à hora extra, era brabo.
Apesar disso tudo a turma era engraçada, e,
como não poderia deixar passar em branco, vou
contar algumas histórias desse pessoal maravilhoso;
Houve uma vez que uns três tomaram uma
suspensão por jogarem damas sempre nos plantões noturnos, bastava o gerente
sair e pronto tudo virava uma jogatina de damas, e eles escondiam o tabuleiro
no teto, farra boa até ser descoberta e os três levarem suspensão.
Também tinha o colega que adorava uma farra, e
para não perder a hora, chegava da noite bêbado, e sempre
dormia na escala, no chão, um belo dia o gerente chega mais cedo e ao abrir a
porta de seu escritório, tropeça e cai no colega, que estava dormindo no chão,
bêbado, não preciso dizer que deu demissão.
Também teve o caso do colega que
chegou atrasado, mas ninguém podia falar nada, pois a culpa foi minha, que
vendi um fusca modelo Baja (parecido com buggy) para ele e a roda se perdeu na
av. Brasil. Hilário, e ele nem reclamou, apesar do susto enorme e risco de um
acidente.
Essa era a nossa
escala de voo, com muito trabalho e responsabilidade, mas também com churrascos
homéricos no chuvisco (clube de campo da Varig), onde todos participavam uma turma muito boa e unida.
VOAR UM GRANDE LANCE – HISTÓRIAS DA AVIAÇÃO







Não se pode falar em Escala de Voo da Varig sem falar do Nelson Ribeiro, conhecido como "o lâmpada", graças a sua prodigiosa memória. Sabia de cor o nome do tripulantes de cada voo, sua rota, folgas, destino e férias.
ResponderExcluirQue história
ResponderExcluirSempre tive esta curiosidade de saber como eram planejadas e feitas as escalas das tripulações. Deveria ser uma loucura fazer isto sem auxilio de computador.
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